Texto do Defense One
Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel
A Rússia invadiu a Ucrânia, trazendo de volta o espírito da Guerra Fria. Um grupo até então pouco conhecido de insurgentes se auto intitulando Estado Islâmico (ISIS ou ISIL) elevou a guerra civil na Síria a outro patamar, e reabriu a ferida do Iraque, onde milhares de soldados americanos perderam a vida. O encerramento – na teoria – da capanha dos Estados Unidos no Afeganistão nem de longe é um arealidade. E a isolada Coreia do Norte teve mais um episódio maníaco, dessa vez ameaçando entrar no terreno da guerra cibernética.
O ano de 2014 apresentou muitos desafios e ameaças em todo o globo e em Washington, onde o orçamento para a defesa é um campo de batalha anual. E com um novo ano chegando, problemas não vão faltar em um momento em que incerteza é a regra.
Mudanças no topo
O Pentágono terá um novo chefe no ano que vem. O atual secretário de Defesa, Chuck Hagel, ficará no cargo até que o o Senado confirme seu sucessor, o ex-vice secretário de Defesa Ash Carter.
Apesar de os Democratas afirmarem que Carter é um deles, do ponto de vista estratégico o futuro secretário é discípulo do general aposentado Brent Scowcroft, antigo assessor de segurança para os presidentes Republicanos Gerald Ford e George W. Bush. Com o mundo em chamas, Carter terá que encontrar voz própria e ativa junto ao secretário de Estado, John Kerry, além de reafirmar suas convicções diante da assessora de Segurança Nacional, Susan Rice, e encontrar seu lugar junto ao vice-prsidente Joe Biden e ao próprio Barack Obama.
Como vice-secretário de Defesa, Carter viajou várias vezes para locais de campanha. Agora, ele precisa recomeçar do zero e ganhar a confiança dessas tropas ávidas por liderança após um mês do anúncio da saída de Hagel, famoso ex-sargento e veterano do Vietnã.
A batalha do orçamento vai se acirrar no Capitólio
Cortes no orçamento militar, o chamado Sequestro, estão previstos para começar em 1º de outubro. O planejamento do Departamento de Defesa acabou torcido e confuso nos últimos pela guerra parlamentar acerca do quanto o governo deveria gastar – o Congresso passou a aprovar ordens de pagamento com meses de atraso. Líderes da área de Defesa em ambos os partidos passaram boa parte do ano fiscal de 2014 se opondo ao Sequestro e farão o mesmo em 2015.
“Acho que a simples ameaça do Sequestro talvez seja tão danosa quanto a medida se tornar real, por causa da instabilidade incorporada ao processo de planejamento [do Departamento de Defesa], afirmour Jamie Morin, diretor do gabinete de avaliação de custos de Pentágono no começo de dezembro.
Espera-se que legisladores e autoridades de Defesa proponham várias reformas para aquisição de bens, e líderes do Pentágono devem elaborar em detalhes um esforço de inovação concebido para estimular o desenvolvimento de novas tecnologias que deem às Forças Armadas superioridade nos campos de batalha do futuro.
Outra expectative é que em 2015 o DOD decida duas aquisições que a indústria de defesa observa de perto. A primeira é o novo bombardeiro de longo alcance para a Força Aérea e a outra é o veículo tático leve integrado para o Exército, que deve substituir os Humvees. Além disso, o Corpo de Fuzileiros Navais também deve declarar como concluída sua versão do Joint Strike Fighter (F-35), fabricado pela Lockheed Martin.
Guerra e a campanha eleitoral
O combate para as eleições de 2016 também deve esquentar.
Os Republicanos vieram construíndo uma narrativo do governo atual como incompetente e sem uma visão clara de política externa. Isso levou a grandes perdas para o partido presidencial nas eleições prévias de novembro, e ao controle do Senado pelos Republicanos. Mas não é certo se o que a oposição tem a oferecer será muito diferente do que a Casa Branca já está fazendo – é o mesmo problema não-resolvido que corroeu a campanha de Mitt Romney para a presidência há dois anos.
Os opositores de Obama já prometeram tentar desfazer ou barrar ações relacionadas à segurança nacional – desde a abertura de uma embaixada americana em Havana até o esvaziamento da prisão de Guantanamo pela transferêcia dos detentos um a um para outros países.
A oposição vem de críticos republicanos com bastante voz, especialmente agora que têm mais poder no Capitólio, por exemplo o senador John McCain, como futuro chfe do Armed Services Committee do Senado, além de conservadores e possíveis candidatos à corrida presidencial em 2016 como os senadores Ted Cruz, do Texas, Marco Rubio, da Florida, e Rand Paul, do Kentucky.
A previsão é de embates entre a Casa Branca e o Congresso sobre a estratégia contra o Estado Islâmico, relutância em enviar tropas e sobre o que fazer com o regime do presidente sírio Bashar al-Assad, um cronograma para a retirada dos contingentes do Afeganistão, sanções mais severas contra a Rússia e o Irã antes da próxima rodada de negociações sobre o programa nuclear no dia 30 de junho de 2015, e pressão por apoio mais letal aos rebeldes sírios, às forças de segurança iraquianas e aos curdos, bem como ao governo ucraniano.
Rumo a um exército robótico
O ano de 2015 pode ser um divisor de águas para a robótica militar, resultado de anos de investimentos e pesquisa. O grande marco será o Robotics Grand Challenge Finals, a Copa do Mundo do setor, e que será sediada pela Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA), em Pomona, na California, nos dias 5 e 6 de junho.
Da mesma forma que as edições de 2004 e 2005 do Grand Challange da DARPA marcaram a era dos carros que auto guiados, o Robotics Grand Challange de 2015 poderá inaugurar uma nova era da robótica humanoide. A agência quer desenvolver essas máquinas para trabalhos de emergência e de risco (não se preocupe, a organização deixou bem claro que não há planos de criar robôs terrestres armados), e o sistema vencedor irá influenciar o design de robôs para uso médico, assistência doméstica e outros usos pessoais nas próximas décadas.
Mas essa não é a única surpresa do setor em 2015. Um membro do Office of Naval Research (ONR) disse ao Defense One que o público “ouvirá muito mais” sobre o projeto do robô de combate a incêndios em navios, o chamado Shipboard Autonomous Firefighting Robot (SAFFiR), que teve seu programa de pesquisa lançado em 2011. O SAFFiR suportará temperaturas que consumiram outros robôs e poderá se comunicar com os tripulantes por meio de gestos e comandos de voz, criar rapidamente mapas 3D dos danos causados pelo fogo e também apresentrá o que o ONR chama de “tecnologia avançada de combatea incêndios própria para emprego em robôs”.
O membro do ONR disse para ficarmos de olho para notícias e anúncios durante a Naval Future Force Science and Technology Expo, que acontecerá em Washington na primeira semana de fevereiro.
O governo Americano reservou 2.4 bilhões em verbas para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de drones neste ano fiscal, mas isso pode mudar diante da ascensão do Estado Islâmico. “Pensávamos que poderíamos diminuir o crescimento da nossa frota [de drones] nos próximos anos, e agora estamos realmente revendo isso”, declarou o subsecretário do Departamento de Defesa, Michael Vickers, durante o National Security Summit em setembro. “Provavelmente teremos um mix de equipamentos de inteligência, vigilância e reconhecimento após o ciclo orçamentário diferente do que teríamos há um ano atrás, por conta do surgimento do ISIL e outras ameaças”.
Um dos drones anunciados não deve ganhar muita atenção da mídia, mas está entre os mais importantes. Trata-se dos trabalhos do UCLASS – o drone gigante para porta-aviões em desenvolvimento pela US Navy. Uma encomenda da Marinha por propostas no segundo semestre de 2014 indicou que os militares querem uma máquina capaz de voar 14 horas sem reabastecer.
O uso principal dessa aeronave seria espionagem, mas especialistas que prestaram depoimento ao House Armed Services Committee em julho reforçaram o que outros já haviam observado acerca dessas especificações técnicas: os militres deveriam se concentrar em um drone com menos autonomia e mais capacidade de transportar armamentos – em outras palavras, uma máquina com pernas mais curtas e presas maiores.
O destino do UCLASS, diferente da tecnologia dos drones em si, é obscuro. Mas a luz pode surgir em 2015. “O atual [National Defense Authorization Act, NDAA,] impede que o Departamento de Defesa prossiga com a próxima etapa do desenvolvimento, que pode resultar em um contrato para a criação de um veículo aéreo, até que o DOD envie um relatório explicando como estabeleceu as especificações para o UCLASS”, explicou Paul Scharre, membro e diretor da Warfare Initiative dentro do Center for a New American Security (CNAS). “Além disso, o NDAA exige que o Departamento envie um relatório mais amplo sobre o futuro da aviação naval, explicando como o UCLASS se encaixa em um contexto maior”.
Comparado a um robô-bombeiro ambulante, o UCLASS não tem tanta graça. Mas pode influenciar o futuro não apenas dos veículos aéreos não-tripulados, mas dos próprios porta-aviões. Em depoimento ao mesmo House Armed Services Committee, o vice-presidente e director de estudos da CNAS, Shawn Brimley, declarou: “essa é uma daquelas raras decisões que podem ter um impacto enorme em como as forças em conjunto lutarão nas guerras futuras”.